Em uma tarde de maio de 1943 o mar do Caribe testemunhou um confronto improvável entre um pequeno navio de madeira cubano e um moderno submarino alemão. Acompanhe a tática e a coragem que definiram o destino do U-176.
O sol de maio caía vertical e impiedoso sobre as águas do Canal Velho de Bahama e transformava o convés do pequeno caça-submarinos CS-13 em uma chapa quente onde o ar tremulava. Não era um navio imponente nem um colosso de aço projetado para grandes batalhas oceânicas mas sim uma embarcação modesta de madeira com pouco mais de vinte e cinco metros que cheirava a diesel e sal. A tripulação cubana composta por homens que conheciam aquele mar não por mapas estratégicos mas pela cor de suas águas e pelo movimento das ondas mantinha-se em alerta. Havia uma tensão elétrica no ar abafado que superava o ruído monótono dos motores. Eles sabiam que abaixo daquela superfície azul turquesa algo letal espreitava em silêncio.
O inimigo era invisível e tecnologicamente superior. O U-176 comandado pelo capitão-tenente Reiner Dierksen representava a elite da máquina de guerra alemã. Era um predador de aço cinzento que havia cruzado o Atlântico para semear o caos nas rotas comerciais que alimentavam os Aliados. Para a tripulação do submarino o Caribe era um campo de caça farto onde navios mercantes desprotegidos navegavam carregados de açúcar e minérios. O que os alemães não esperavam era encontrar a obstinação de um pequeno barco patrulha que ostentava a bandeira de Cuba no mastro.
A rotina a bordo do CS-13 rompeu-se quando o operador de sonar Norberto Collado Abreu captou um sinal distinto. O som não era o de um cardume nem o reflexo do fundo do mar. Era o eco metálico e rítmico de uma hélice que tentava se mover furtivamente nas profundezas. Collado ajustou os fones de ouvido e pressionou-os contra o crânio como se quisesse fundir sua mente com o aparelho. Ele sabia o que ouvia. O contato foi confirmado e comunicado imediatamente ao comando. O tenente Mario Ramirez Delgado assumiu a responsabilidade daquele instante decisivo. Não houve gritos de pânico nem hesitação. Apenas a certeza fria de que a caça havia começado.

O pequeno navio iniciou sua manobra de aproximação. A disparidade de forças era evidente para qualquer observador militar pois um único torpedo bem posicionado do U-176 poderia desintegrar o casco de madeira do CS-13 e enviar todos os seus tripulantes para o fundo antes mesmo que pudessem entender o que acontecera. No entanto a vantagem tática naquele momento pertencia aos cubanos que estavam na superfície e possuíam a informação precisa da localização do inimigo. O submarino navegava cego em relação à ameaça imediata que pairava logo acima de sua torre.
A ordem de ataque foi dada com precisão cirúrgica. As cargas de profundidade rolaram das calhas na popa do CS-13 e mergulharam na água escura. Segundos que pareceram horas se arrastaram enquanto os cilindros explosivos desciam até a profundidade programada. A tripulação no convés segurou-se onde pôde e aguardou o impacto. O mar subitamente entrou em convulsão.
Primeiro veio o som surdo como uma martelada no casco do próprio mundo. Depois a superfície da água se rasgou em colunas de espuma branca e violenta. As explosões sacudiram o pequeno caça-submarinos com tal violência que a estrutura de madeira gemeu sob o estresse. Mas o navio aguentou. O silêncio que se seguiu às explosões foi mais pesado do que o ruído anterior. Todos os olhos estavam fixos na água revolta procurando qualquer sinal de sucesso ou a trilha de um torpedo de retaliação.
Então o mar começou a sangrar. Uma mancha escura e viscosa de óleo diesel emergiu das profundezas e espalhou-se lentamente pela superfície agitada. Junto com o óleo vieram destroços e outros detritos que confirmavam o destino fatal do predador submerso. O U-176 com toda a sua tecnologia e poder de fogo havia encontrado seu fim nas mãos de um barco que muitos considerariam insignificante. A pressão da água e as explosões haviam esmagado o casco de aço e levado sua tripulação para o abismo silencioso do Canal.

A atmosfera a bordo do CS-13 transformou-se de tensão absoluta para uma euforia contida e incrédula. Eles haviam sobrevivido. Mais do que isso eles haviam vencido. O retorno para Havana não foi apenas uma viagem de volta para casa mas sim a marcha triunfal de Davi após derrubar Golias. A notícia correu rápida pelos canais oficiais e pelas ruas da capital. Quando o pequeno navio apontou na entrada da baía a cidade já o esperava.
Havana recebeu seus marinheiros não apenas como militares cumprindo seu dever mas como heróis nacionais que haviam defendido a honra de sua terra contra uma força global ameaçadora. O cais estava repleto de gente. A celebração que tomou conta da cidade tinha o sabor do alívio e do orgulho. O próprio presidente Fulgencio Batista fez questão de condecorar pessoalmente os homens do CS-13. A medalha que Norberto Collado e seus companheiros receberam representava muito mais do que metal e fita colorida. Era o reconhecimento de que a coragem e a competência podiam, às vezes, superar a força bruta e a superioridade material.
Os relatos posteriores da tripulação enfatizaram sempre a precisão do trabalho em equipe. Não houve um único herói solitário mas sim um organismo vivo composto por homens que confiavam uns nos outros. O operador de sonar que ouviu o inimigo, o comandante que traçou a rota de interceptação, os marinheiros que lançaram as cargas no momento exato. Cada engrenagem funcionou perfeitamente sob a pressão do medo e do calor tropical.
A história do afundamento do U-176 permaneceu viva na memória naval de Cuba como um exemplo de tenacidade. O CS-13 continuou a navegar e a cumprir suas missões mas aquele dia de maio ficou marcado em seu casco de madeira como o momento em que ele foi maior do que a guerra. O cheiro de óleo queimado e a visão da mancha negra expandindo-se no azul do Caribe jamais sairiam da memória daqueles homens. Eles haviam olhado para o abismo e o abismo havia piscado primeiro.
A vitória do CS-13 demonstrou ao mundo que a Batalha do Caribe não estava decidida apenas pelas grandes potências. Pequenas nações com recursos limitados também podiam morder e ferir o gigante. O fundo do mar no Canal Velho de Bahama guardaria para sempre os restos do U-176 como um monumento silencioso a esse encontro fatal. Para os marinheiros cubanos restou a satisfação do dever cumprido e a certeza de que naquele dia específico a sorte e a habilidade estiveram ao seu lado.
O sol se pôs sobre Havana no dia da celebração colorindo as muralhas do Morro com tons de laranja e roxo. A música e os risos ecoavam pelas ruas estreitas da cidade velha. Enquanto a festa continuava o CS-13 balançava suavemente em seu amarradouro descansando de sua batalha. Ele era apenas um barco de madeira novamente mas agora carregava em suas tábuas a história de um dia impossível. A guerra continuaria a rugir longe dali mas naquele canto do Caribe um pequeno grupo de homens podia dormir em paz sabendo que haviam defendido sua casa.