A história, muitas vezes, é escrita nas águas antes de ser selada em terra firme. Quando observamos o teatro de operações da Segunda Guerra Mundial, é impossível não notar o papel revolucionário desempenhado pela Marinha Imperial Japonesa. Tudo começou de forma quase experimental em 1914, durante o cerco de Tsingtao. Ali, as primeiras aeronaves japonesas realizaram missões de reconhecimento e bombardeio contra posições alemãs. Aquele evento, aparentemente isolado, revelou uma verdade que mudaria o século: a aviação era uma extensão poderosa e necessária do poder marítimo.
O Japão, atento às movimentações globais, inspirou-se na Royal Navy britânica para construir sua própria frota. É interessante notar como a cooperação internacional moldou esse início. A missão Sempill de 1921, uma colaboração técnico-militar com os britânicos, foi crucial para o design e o treinamento das forças nipônicas. O resultado desse esforço materializou-se em 1922, quando o mundo conheceu o Hōshō. Esta não era uma embarcação adaptada, mas sim o primeiro navio do mundo construído especificamente para atuar como porta-aviões.
Nas décadas de 1920 e 1930, a engenharia naval japonesa entrou em uma fase de intensa experimentação. Ousaram nas grandes conversões e transformaram cruzadores de batalha incompletos em formidáveis bases aéreas flutuantes. O Akagi e o Kaga foram frutos diretos desse esforço. O Akagi, por exemplo, teve seu design redesenhado após as limitações impostas pelo Tratado de Washington. Inicialmente, ele apresentava um convés duplo, uma característica peculiar que refletia as incertezas da época sobre como operar aviões no mar. Mais tarde, a sensatez prevaleceu e o navio foi modificado para um convés único, muito mais eficiente para as operações de caças e bombardeiros.

Ao chegarmos em 1941, o cenário era impressionante. A Marinha Imperial possuía nove porta-aviões operacionais. O Japão posicionava-se, então, como a segunda maior força naval desse tipo no planeta, atrás apenas do Reino Unido, que contava com doze embarcações, e à frente dos Estados Unidos, que tinham oito.
A doutrina naval japonesa via a aviação como ferramenta ofensiva primária. Os ataques a Pearl Harbor e às Filipinas foram a prova cabal dessa abordagem. A combinação dos caças Mitsubishi A6M Zero com bombardeiros transformou esses navios em plataformas móveis de destruição. E não era apenas a máquina que fazia a diferença. O elemento humano era preponderante. Os pilotos japoneses estavam entre os mais bem treinados do mundo, forjados na campanha da China iniciada em 1937. Essa experiência prática inigualável contrastava com a realidade dos pilotos americanos que, em 1941, praticamente não tinham vivência de combate.
Dessa busca pela perfeição surgiram autênticos monstros dos mares, como o Shōkaku e seu navio-irmão, o Zuikaku. Considerados os mais poderosos do Japão, eles podiam transportar até 72 aeronaves, incluindo os famosos Zeros, os bombardeiros Nakajima B5N e os bombardeiros de mergulho Aichi D3A. Diferente de seus antecessores como o Akagi, a classe Shōkaku foi projetada com melhor proteção contra torpedos e bombas. Equipados com turbinas a vapor eficientes, alcançavam velocidades de 34 nós. Eram rápidos, ágeis e letais. O Shōkaku possuía um convés de voo longo e hangares espaçosos, o que permitia operações fluidas. Mesmo quando sofreram danos graves, como na Batalha do Mar de Coral, esses navios provaram ser duros na queda, retornando ao serviço após os reparos.

O destino, contudo, reserva reviravoltas cruéis. O domínio japonês começou a ruir em 1942. A Batalha de Midway foi o ponto de inflexão. Em um único dia, os Estados Unidos afundaram quatro dos principais porta-aviões japoneses: Akagi, Kaga, Hiryū e Sōryū. Eram as mesmas embarcações que, seis meses antes, haviam atacado a base americana no Havaí. Para os americanos, foi a vingança pelo dia infame; para os japoneses, um golpe fatal.
A perda foi muito além do aço e do ferro. O Japão perdeu pilotos veteranos cuja experiência era insubstituível. A capacidade industrial limitada do país tornou impossível repor navios e homens no ritmo necessário para competir com os Estados Unidos. O Zuikaku, último sobrevivente do ataque a Pearl Harbor, resistiu até 1944, quando foi finalmente afundado na Batalha do Golfo de Leyte.
É uma ironia histórica observar o fim dessas máquinas. O Hōshō, que começou sua carreira como símbolo de inovação em 1922, terminou seus dias realizando o transporte de prisioneiros e a repatriação de tropas, até virar sucata em 1947.
O Japão, um país com recursos naturais limitados, conseguiu criar uma força naval avançada através de engenhosidade técnica e treinamento rigoroso. No entanto, a história serve como um lembrete severo das limitações que uma potência enfrenta sem uma base industrial sólida para sustentar uma guerra longa. O impacto dos porta-aviões da Marinha Imperial mudou para sempre a doutrina militar, pavimentando o caminho para a dominação aérea nos oceanos, uma realidade que perdura até os dias de hoje.