Em 1944 paraquedistas da SS saltaram na Palestina com uma missão letal. Saiba como a Operação Atlas planejava envenenar as águas de Tel Aviv e falhou no deserto.
Em outubro de 1944, a máquina de guerra do Terceiro Reich estava em colapso. Nas frentes oriental e ocidental, os exércitos aliados apertavam o cerco contra a Alemanha, mas, nos corredores da inteligência nazista, planos desesperados ainda eram gestados com uma mistura de fanatismo ideológico e negação da realidade. Foi nesse contexto de desintegração iminente que nasceu a Operação Atlas, uma missão que combinava a brutalidade das SS com a complexidade política do Oriente Médio. O objetivo não era uma vitória militar convencional, mas um ato de terror em massa: lançar paraquedistas na Palestina Mandatária para envenenar o abastecimento de água de Tel Aviv.
A operação foi concebida sob o patrocínio direto do Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, que vivia em Berlim e colaborava ativamente com o regime de Hitler. Al-Husseini via na aliança com os nazistas a oportunidade de eliminar a presença judaica na Palestina. Para a liderança da SS, a missão representava uma chance de causar o caos na retaguarda britânica e infligir um golpe devastador na população civil judaica. O plano consistia em infiltrar uma unidade de comando mista, composta por alemães e árabes, profundamente atrás das linhas inimigas.
O grupo selecionado para a tarefa era pequeno, heterogêneo e altamente especializado. A liderança em campo coube a Kurt Wieland, um major da Waffen-SS. Wieland não era um oficial comum; ele nascera na Palestina, membro da comunidade dos Templários alemães, e conhecia a região intimamente. Seu conhecimento geográfico e cultural era o trunfo tático da missão. Ao lado dele estavam outros dois alemães: Werner Frank, também nascido na Palestina e especialista em sabotagem, e Friedrich Schäfer. Completavam a equipe dois palestinos leais ao Mufti: Hassan Salama, um militante veterano de revoltas anteriores, e Abdul Latif.
A logística da inserção foi um capítulo à parte na história das operações especiais da Luftwaffe. A unidade responsável pelo transporte foi a KG 200, uma ala secreta famosa por operar aeronaves capturadas para missões clandestinas. Na noite de 6 de outubro de 1944, os cinco homens embarcaram em um B-17 Flying Fortress — um bombardeiro pesado americano capturado — que decolou de um aeródromo em Atenas. O uso de um avião aliado visava enganar as defesas aéreas britânicas e garantir que a aeronave pudesse penetrar o espaço aéreo do Oriente Médio sem levantar suspeitas imediatas.
O alvo do salto era a região de Wadi Qelt, um desfiladeiro profundo e árido a oeste de Jericó. A escolha do local, embora isolada, apresentava riscos técnicos consideráveis para um salto noturno. Quando o B-17 atingiu a zona de lançamento, os ventos e a escuridão conspiraram contra a precisão necessária. Os paraquedistas saltaram na vastidão negra do deserto, mas a dispersão foi inevitável. Homens e equipamentos aterrissaram longe uns dos outros, espalhados por quilômetros de terreno rochoso e implacável.
O inventário que desceu com eles revelava a natureza sinistra da missão. Além de armas leves, explosivos, mapas, moeda falsa e rádios transmissores, os contêineres carregavam uma substância letal: óxido de arsênico. A quantidade transportada era suficiente, segundo os cálculos dos planejadores em Berlim, para contaminar as fontes de Rosh HaAyin, que abasteciam Tel Aviv. A intenção era clara e mecânica: despejar o veneno nas nascentes e causar a morte de milhares de civis, provocando pânico e desestabilizando o controle britânico sobre a região.
No entanto, a realidade do terreno impôs sua própria fricção à operação. A aterrissagem desastrosa comprometeu a coesão da unidade desde os primeiros minutos. Hassan Salama feriu-se gravemente na queda, tornando a movimentação rápida impossível. Além disso, grande parte dos suprimentos, incluindo os contêineres com o veneno e os equipamentos de rádio, perdeu-se na escuridão ou caiu em locais de difícil acesso. A força de elite, antes mesmo de disparar um tiro, estava fragmentada e vulnerável.
A presença dos intrusos não passou despercebida por muito tempo. A população local e informantes rapidamente notaram atividades suspeitas. Caixas com marcações alemãs e paraquedas abandonados no deserto não eram visões comuns, e a notícia chegou às autoridades britânicas. A polícia da Palestina e a Força de Fronteira da Transjordânia iniciaram uma caçada humana imediata. A vantagem de Wieland de conhecer o terreno foi anulada pela eficiência da rede de inteligência britânica e pela cooperação de moradores locais que não simpatizavam com a causa ou que foram atraídos pelas recompensas.

Poucos dias após o salto, a missão desmoronou. Kurt Wieland, Werner Frank e Friedrich Schäfer foram localizados escondidos em uma caverna. A captura foi anticlimática, marcada mais pela exaustão e pela falta de recursos do que por um tiroteio cinematográfico. Os alemães, isolados e sem seu equipamento principal, renderam-se. Abdul Latif também foi detido. Apenas Hassan Salama, apesar dos ferimentos, conseguiu escapar da captura inicial, desaparecendo na rede de contatos locais, apenas para ressurgir em conflitos posteriores anos mais tarde.
A descoberta dos frascos de veneno nos dias seguintes confirmou a gravidade da ameaça que pairara sobre Tel Aviv. A análise do material apreendido revelou a capacidade letal da carga, transformando o que poderia ser apenas uma missão de sabotagem em uma tentativa de massacre industrializado. As autoridades britânicas mantiveram os detalhes em sigilo durante algum tempo para evitar o pânico público, mas a natureza da Operação Atlas ficou registrada nos arquivos como um testemunho da extensão global das ambições destrutivas do nazismo, mesmo em seus momentos finais.
O fracasso da Operação Atlas não deveu-se à falta de treinamento dos agentes, mas à arrogância de um planejamento que ignorou as variáveis incontroláveis da guerra e a resiliência da vigilância local. Em vez de um levante árabe ou de uma cidade dizimada pelo veneno, o resultado foi a captura silenciosa de homens exaustos em uma caverna empoeirada. A água de Tel Aviv continuou a fluir limpa, e o episódio permaneceu como uma nota de rodapé sombria, ilustrando como a guerra moderna pode levar o terror às fronteiras mais distantes, transportado nas asas de aviões roubados sob a cobertura da noite.
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