Mergulhe na dramática história real do U-615 e sua batalha final no Caribe. Um relato detalhado sobre o confronto mortal entre a Marinha dos EUA e um jovem capitão alemão nas águas da Venezuela em 1943.
É um cenário paradisíaco, onde o azul do Caribe se confunde com o horizonte infinito. Mas, sob a superfície calma das águas que banham a costa central da Venezuela, repousa um gigante de aço, um túmulo silencioso que guarda os segredos de um dos confrontos mais ferozes e prolongados da Segunda Guerra Mundial em nosso continente. Estamos no final de julho de 1943. O mundo arde em chamas, e essa fogueira de destruição chegou ao hemisfério sul. O protagonista desta tragédia atende pelo nome de U-615, um submarino alemão que, naquele momento, navegava como um predador solitário.
O homem no comando desta máquina de guerra era Ralph Kapitsky. Olhe bem para este perfil. Ele não era um veterano de cabelos brancos, endurecido por décadas de mar. Tinha acabado de completar 28 anos, apenas um mês antes desses eventos fatídicos. Jovem, audacioso e letal. Em sua rota de terror entre Maracaibo e Curaçao, ele já havia deixado sua marca de sangue, afundando sua quarta vítima. O petrolero holandês Rosalia conheceu a fúria de seus dois torpedos, que incendiaram a embarcação e ceifaram a vida de 23 tripulantes, deixando apenas treze sobreviventes para contar a história daquele horror.
Mas a caça logo se tornaria o caçador.
Quando agosto despontava no calendário, um avião comercial avistou uma silhueta estranha perto da ilha de La Blanquilla. O U-615 comportava-se de maneira atípica. Navegava lentamente. Não mergulhava. Era o sinal que a Marinha Norte-Americana esperava. O alerta soou imediatamente nas unidades VP204 e VP205, baseadas em Trinidad. A maquinaria de guerra dos Estados Unidos, equipada com hidroaviões Martin PBM Mariner de cauda dupla, ligou seus radares. Naquele deserto líquido, a tecnologia tornava relativamente fácil localizar qualquer periscópio ou sombra que ousasse emergir.
O primeiro ato deste drama se desenrolou quando o Tenente Erskine, a bordo do Mariner 204P6, se aproximou com sua tripulação de nove homens. Eles carregavam em seus uniformes um símbolo que resumia sua missão: uma caricatura de um indígena americano segurando uma lâmpada na mão direita para buscar, e uma bomba na esquerda para destruir. Mas Kapitsky não se entregaria sem luta. O fogo antiaéreo do submarino foi tão intenso e nutrido que Erskine não conseguiu liberar suas bombas com precisão, sendo forçado a recuar na tarde de 5 de agosto.
A tensão aumentava a cada hora. O mar do Caribe preparava-se para testemunhar uma tragédia.
O relevo chegou na forma do Mariner VP205P4, pilotado pelo Tenente Anthony Matusky. Era meio-dia de 6 de agosto. Matusky, determinado, conseguiu o que parecia impossível: impactou o submarino. Pelo rádio, sua voz ecoou na base de Chaguaramas, em Trinidad, informando que o inimigo mantinha a proa fora d’água e se arrastava a lentos dois nós de velocidade. O piloto informou que faria uma segunda passagem. Seria sua sentença final.
Às 13h48, o rádio crepitou com gritos de desespero: “Dañados, Dañados, Fuego!”. Depois, apenas o silêncio estático. Foi a última vez que o mundo ouviu falar do VP205P4. O oceano engoliu a aeronave e todos os seus tripulantes. Dias depois, as equipes de busca encontrariam apenas restos tristes de uma ponta de asa e uma pequena balsa inflável, rasgada, flutuando como um aviso macabro.
A morte de Matusky não parou a ofensiva. Às 14h00, o Tenente Lewis Crockett, voando uma aeronave emprestada, o Mariner 205P11, entrou na zona de combate. Ele buscava os restos do colega abatido, mas seu radar captou algo mais. A doze quilômetros de distância, voando a 500 metros de altitude, ele avistou o inimigo. A nave de Kapitsky agonizava. Navegava de forma pausada, expelindo uma fumaça azulosa de suas laterais, sinal claro de que apenas um motor ainda funcionava.
O cerco se fechava.
Às 18h20 daquele mesmo dia interminável, o Tenente Dresbach chegou ao teatro de operações em seu Mariner 204P8. A visibilidade era total. O alvo estava claro a 20 quilômetros. Não havia necessidade de radares. Outros aviões, incluindo um Ventura, circulavam a área como abutres esperando o momento final.
Dresbach tomou uma decisão ousada. De uma altitude de mil metros, ele picou o avião diretamente contra o submarino, mergulhando em um ataque frontal. Lá embaixo, Kapitsky, mesmo ferido e acuado, ordenou que toda a artilharia antiaérea de 37mm se concentrasse naquele avião que caía sobre eles como um falcão.
O que aconteceu a seguir foi uma cena de horror e heroísmo que durou frações de segundo. No momento crítico do ataque, dois projéteis de quase quatro centímetros de espessura rasgaram a proa do hidroavião. Atravessaram o painel de instrumentos impiedosamente. Uma bala destroçou o ombro direito do piloto. A outra o atingiu mortalmente no peito.
A cabine foi banhada em sangue. Dresbach colapsou em seu assento, a vida se esvaindo. Mas, num reflexo de sobrevivência e dever, o copiloto, Tenente Christian, assumiu imediatamente os controles. Ele não precisou soltar as quatro bombas MK44. Em seu último suspiro, em um ato derradeiro de combate, o piloto morto já as havia liberado.
A tarefa de Christian agora era lutar contra a gravidade e a morte. Com as duas mãos firmes nos controles, puxando-os para si, ele tentava recuperar a altitude. O Mariner rugiu, passando a menos de 70 metros sobre o U-615, exibindo seu ventre branco para os canhões de Kapitsky, que continuavam a castigar a aeronave.
No submarino, a situação era terminal. O Capitão Ralph Kapitsky havia sido gravemente ferido no quadril esquerdo. Percebendo a gravidade de seu estado, passou o comando ao primeiro oficial, Herbert Schlipper, que decidiu manter a luta. Em um ato de desespero e camaradagem sombria, os feridos foram amarrados à nave. O artilheiro principal estava morto. Restavam apenas os rapazes sobreviventes para continuar aquela resistência fútil.
A madrugada de 7 de agosto trouxe o fim. Às 04h50, guiado pelo último Mariner do Tenente Joster, Milton desferiu o golpe definitivo. Nunca mais se veria o U-615. Segundo relatos dos marinheiros que sobreviveram, o fim de Kapitsky foi tão dramático quanto sua vida: ele teria morrido naquelas horas escuras da madrugada, no momento exato em que a própria tripulação abriu as válvulas de inundação para afundar o submarino, disparando uma bengala vermelha para o céu noturno.
Esta batalha aeronaval, travada tão perto de nossas costas, está catalogada como uma das mais longas entre um U-boat e a aviação americana. O sacrifício do U-615 permitiu que outros submarinos na região escapassem do perigo iminente. O custo foi alto. O submarino recebeu mais de uma dúzia de bombas em três dias. Derrubou um avião com nove homens, matou outro piloto e feriu muitos outros.
Os aviadores da US Navy receberam cruzes de voo distinto por sua bravura. Para os alemães, não houve medalhas. O reconhecimento nunca chegaria para os 43 sobreviventes, nem para os quatro que foram sacrificados. Hoje, estima-se que os restos do U-615 repousem a cerca de mil metros de profundidade, perto de La Blanquilla. Sua localização exata permanece um mistério, mas a história, essa sim, é inegavelmente real.
Fonte: Artigo original El submarino alemán hundido en La Blanquilla Por Clemente Balladares,
OBS: Imagens criadas com Inteligência Artificial

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